Eu não nasci em berço de ouro. Se for levar a frase para a literalidade, nem em berço de qualquer outro material eu nasci. Não sou de família abastada. Éramos muito pobres e eu me lembro de ter pouquíssimas coisas materiais. Era uma boneca num aniversário, uma bola no outro ano e olhe lá. Além disso, era tudo muito simples. Eu sempre via as outras crianças com brinquedos legais, principalmente Barbies. Ah, como eu queria ter uma Barbie. Fui ter uma genérica já quase indo para a adolescência. Mas era uma genérica boa, ela tinha as pernas de borracha. Só os sapatos que eram de plástico vagabundo e o vestido também não era muito bom. Era um tomara-que-caia e caía mesmo, tanto que ela vivia com os peitos de fora. Não posso me queixar muito, pois consegui realizar um dos meus sonhos na infância. Ganhei uma Caloi Ceci rosa com cestinha. Lembro que chovia no dia, mas eu saí na chuva mesmo. Foi emocionante. Faltou brinquedo, mas não faltou comida à mesa. Obviamente só tínhamos o básico, mas tínhamos.
Estudei da primeira série do primário à terceira série do colegial em escola pública. Acho que até a sétima série o ensino ainda era mais ou menos de qualidade, depois descambou para o que temos hoje em dia: educação nula. Antes de entrar na primeira série, eu comprei cadernos da moranguinho, encapei; comprei aquele plástico quadriculado de encapar a carteira; ganhei o material, guardei com carinho e fiquei ansiosa para começar a estudar. Estudei com afinco, mas não levei isso para a vida.
Veio a adolescência, a vida deu uma melhoradinha, mas eu não me orientei. Quando terminou a oitava série e havia a possibilidade de estudar em um curso técnico, eu não corri atrás. Eu fiz a prova, achando que conhecimento caía do céu. Óbvio que não passei. Quando terminei o colegial, nada fiz. Eu sabia que eu tinha capacidade e era (acho que ainda sou) inteligente, mas eu nunca corri atrás porque não tinha recurso financeiro. Nunca procurei estudar para um vestibular numa USP da vida, nunca tentei nada que pudesse mudar a minha vida. Parece que em algum momento entrou na minha cabeça que sucesso através dos estudos não era para mim.
Comecei a trabalhar, então. Depois de alguns anos fiz uma faculdade dessas sem critério, concluí e continuei sem mudar a minha vida em nada. Frustração atrás de frustração, eu vim parar no mundo dos concursos. No começo eu refutei. Havia trabalhado em empresa pública e não queria aquilo para mim. Não vou citar qual a empresa, mas era estadual e eu achava o povo muito mole que chegava o dia do pagamento e pela manhã já começavam a reclamar que o salário ainda não havia caído. Queria mesmo trabalhar em empresas de grande porte. E trabalhei, mas me decepcionei. Chegou um momento que eu vi que a única oportunidade na minha vida seria o mundo dos concursos.
Eu comecei a estudar tropeçando na realidade do que é um concurso. Na primeira vez que eu vi um edital, eu comecei a imprimir a CF toda. Sim, pode rir de mim, eu deixo. Mas comecei a ver sair tanto papel da impressora que dei um stop. Eu não tinha a menor noção de como estudar. Na verdade, eu nunca estudei. Passei 11 anos na escola, 3 numa faculdade, fora os cursos e nunca estudei. Fui saber o que é estudar quando passei a estudar para concurso. Após inúmeros tropeços, eu entendi a diferença entre estudar e ir à aula. Já postei um texto aqui falando disso, sobre a diferença entre estudar adquirindo conteúdo e ir à aula para responder a chamada.
Hoje, após inúmeros tropeços na vida e nos estudos, eu acho que estou no caminho certo. Estou estudando não só para mudar a minha vida, que apesar de ter melhorado, ainda não é o que eu quero. Hoje eu posso me dar ao luxo de ter umas coisinhas mais, mas eu não quero comparar a minha vida apenas com a escassez de recursos da minha infância, pois qualquer coisa seria lucro. Quero comparar com o que poderia ser se eu realmente fosse vencedora.
E é vendo inúmeros depoimentos de vencedores que vieram do nada que eu me motivo. Uma das frases que ouvi que mais me tocou foi: QUEM JÁ TEM A CAMA FEITA, PODE SER RAZOÁVEL. QUEM NÃO TEM, PRECISA TOMAR O DESTINO NAS MÃOS. E é esta frase que está norteando minha vida. Eu nasci sem oportunidade, mas vou criá-la. E para isso não vou repetir os meus erros de achar que sem estudo eu vou chegar a algum lugar só por ser inteligente (desculpem a falsa modéstia, mas burrica eu não sou).
EU VOU TOMAR O MEU DESTINO NAS MÃOS.